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Archive for fevereiro \27\+00:00 2008

Aniversário

Lôra se emocionou com todos os telefonemas, recados, e-mails.

 

Choramingou cedinho, no bistrô onde tomam café da manhã. Sheila, a dona, deu-lhe de presente a rosa mais cheirosa, colhida ali, na hora. A mãe, dona Irene, leu um texto sobre felicidade e a presenteou com dois araçás-cetim (que ela sequer me ofereceu).

 

Ganhou duas bananeiras, também. E festejou como se fosse colar de ouro. Honestamente, acho que o sol está afetando os miolos dessa criatura.

 

Em tempo: Lôra não foi à sua própria festa de aniversário.

  

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Mágica do serrote

Hoje é aniversário da Lôra. Ela foi comprar umas coisas pra obra interminável que acontece aqui nesta casa. Agora está arrumando a calçada e fazendo floreiras de tijolo. Vai ficar bom, só não entendo porque tanto empenho.

 

Eu não vejo a hora de sair dessa cidade quente. E estamos no inverno!! Imaginem o que será de mim no verão. Já emagreci uns 200 gramas. Saco.

 

Mas, então. Lôra e a mestiça, que é super metida e entra no jipe assim que alguém abre a porta, foram às compras.

 

Lôra se presenteou com um serrote. Isso mesmo. Um SER-RO-TE. De 22”, que ela não é mulher de mixaria.

 

Comprou umas tábuas, também, porque disse que vai fazer um banco e os portões laterais, já que chamou três cabras e eles não apareceram.

 

Atualmente, a fofa escreve, é assessora de imprensa, tem furadeira profissional, costura, prega botão, assa peixe, assenta tijolo e dá uma de carpinteira. Burra, lógico, porque numa cidade machista como esta, um currículo destes só depõe contra.

 

Assim que vi o serrote pensei em algo muito mais interessante. Já que a ferramenta de trabalho da ONG é o circo, podemos treinar aquele número de serrar as pessoas ao meio.

Mas, no número siberiano, alguns ficam separados mesmo, forever. Afinal, não servem pra nada, mesmo.

 

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Corrida de explosão

Ai ai ai, ai ai ai, esse eu pego, esse eu peeeego, esse eu peeeeeegoooooo… 

A mestiça recita o mantra e corre desvairada, de uma ponta a outra do quintal. Bote ai bem uns 30 metros.

 

… Eu pego, eu peeeego, arf, arf, eu peeeeeegoooooo…Saia imediatamente da toca, seu miserável, que esse buraco mal comporta o meu focinho!

 

Toda vez que ela vê um calango – uma lagartixa avantajada, que se veste de verde – sai em disparada, como se estivesse treinando pra prova de atletismo.

 

Fico suado só de olhar.

 

Até agora, ela só venceu no 4 x 2. Quatro patas versus duas, as daquele bípede infeliz brutalmente assassinado.

 

Galinhas fora, a mestiça não ganha uma.

 

Se não alcança um gato – não estou falando de mim, mas de felinos – quiçá a Ferrari dos répteis, bicho aerodinâmico, estável nas curvas, com excelente arrancada.

 

Mas o vovô sempre diz que o importante é tentar.

 

Saudades dele e da vovó.

 

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Nós, que somos bichos, não podemos comprar Ecosport.

Mas temos todo o direito – e dever – de não sujar as nossas patas com humanos de quinta categoria.

Eu disse pra Lôra: meus dentinhos tão branquinhos, naquela carne mole e encardida, na-na-nina.

Pensei em dar uma lição naquele pitboy paraguaio, mas até um cachorro com gripe ficaria nauseado com a murrinha.

Além de ensebado, ele tem caspa e fala cuspindo. Eu, hein.

Comer meio rato é uma coisa. Rato inteiro, outra bem diferente.

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Registrada agressão contra Sr. Fulano. Ele foi atingido por uma tábua de cortar carne por sua mulher, que alegou estar cansada dos atrasos do companheiro para o jantar.

Agora, imagina quando o sujeito chegar hoje ao trabalho. Foi em rede ‘nacional’, na Rádio Rural.

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Barba de aluguel

Eu estou cansando de ficar em casa. Tá certo que tem quintal, posso acompanhar o movimento da rua, patati patatá, mas tenho saudades de São Paulo.

Dançar forró com a Lena, passear com a Deca, Mônica e aquelas garotas doidas… Havia mais opções.

Lôra anda fazendo algo meio complexo, ou talvez o seja (só) para ela, que é loira. Passa o dia fora, às vezes nem aparece na hora do almoço.

Não larga o laptop. Noite dessas, pegou no sono, depois de horas teclando compulsivamente, como se recebesse em euros por cada TEC. Dormiu ali, toda torta, mão sobre o teclado.

A mestiça, como sempre, só aguardou o suspiro mais longo para subir na alcova.

Lôra virou de um lado, de outro, e começou a correr os dedos pelo teclado.

Olhei de relance. A mão abria, fechava, abr…

Merda!!!

É psicografia? Pelo amor, eu tenho medo dessas coisas!

Mestiça chegou mais perto e passou a lamber os dedos da Lôra, cuidadosamente. Cena de cinema, que tive de interromper por dois motivos.

1) Alguns minutos a mais e eu teria crise de diabete, com tanta ‘doçura’.

 2) O laptop acabaria por se afogar. Na melhor das hipóteses, Lôra estava sonâmbula e equivocada, tomando o teclado pela barba de algum cabra. Poderia babar, beijar, apertar…

ECA!

A que ponto chega a carência feminina!

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Começou o carnaval, e, com ele, o Cristoval. É numa praça aqui perto. O slogan: “troque o abada por abadeus”. Tem missa com o bispo e depois show de uma cantora que é a cara da Mara Maravilha. Na orla, é carnaval profano. Pró significa a favor, não é? E fano? Esse carnaval é a favor de quem? Eu queria ir! Tomei até banho, certa de que ia rolar. Hoje pegaria ao menos um ratinho. Na praça tem, contei, não? Tem rato e manga. O Igor prefere fruta, mas ele é um husky. Quadragésimo e sei lá qual lugar no ranking da inteligência. Equivale àquela outra espécie de mamíferos quadrúpedes, que, como meu irmão, tem as orelhas para cima e é ‘de trabalho’. Para você matar a charada: os tataravôs do Igor puxavam trenó na neve. Essa outra espécie animal puxa carroça. Sacou? O QI é o mesmo, apesar das funções distintas. Mas, voltando aos ratinhos. Eles brincam no forro, e agora que estamos mais à vontade, todos nós, dão guinchinhos curtos: ic-ic-irrc. Nos primeiros dias, Lôra achou que eram morcegos, e nem ligou. Pode? Horror. Depois percebeu a categoria dos inquilinos, quando eles passaram a fazer sons mais… Guturais. Eu e Igor pensamos se tratar de filhotes. Lôra apostou num casal alardeando seu amor para o mundo (deve ser carência afetiva. Dela, claro). Mas ela tem se cansado muito com uma reforma, de modos que fomos dormir… Com as galinhas. Sem carnaval, sem show da Mara, sem pega-pega com ratinhos. Nhé.

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Carnaval!

Confidenciei à mestiça: é bom mesmo que o Mag chegue logo. Mais dia, menos dia, precisaremos de um advogado.  Depois de dias sumidos da orla – a chuva não deu uma trégua nessa semana! – dávamos o nosso passeio noturno. Na paz.  Bem, rolavam aquelas baboseiras de sempre, qual é o telefone do seu cachorro? (só uso e-mail, seu dinossauro), rá-rá parece um urso (e você, uma anta), como está gordo! (meu próximo papel em Hollywood será Buda, idiota). Nada inédito.  O calçadão estava bem mais vazio do que ‘o chão’. Vocês devem se lembrar daquela discussão torpe, outro dia, com o estagiário da prefeitura. Sabem do que estou falando. Lôra observou o movimento (ou a falta de), até porque não havia mais nada para olhar.   Seguimos o passo até sermos cercados, novamente, por enviados do poder. Um casal, dessa vez. Com o mesmo uniforme – a camiseta vermelha – como convém ao partido que representam.  – A senhora… – Senhorita. – A senhorita… – Não. Casal surpreso. – A senhora…rita deve andar no chão… – Oh! A tinta invisível está vencida! Você pode ver nossa canoa? Lôra olhou para baixo e mexeu os braços, fingindo-se chocada. – A senhora… ita tem de andar o chão com os cachorros… Ela poderia ter levado aquele diálogo adiante, mas estamos na semana do mês em que a tolerância zero dá o tom. – Seguinte, seu fiscal: cadê a lei? Mostra aê, ou vou continuar caminhando nas nuvens com os dois. Lôra rosnou, com a mão na cintura.Lôra, Lorinha, te toca, eu murmurei. Recorrer a figuras de linguagem por aqui não levará a nada. – A senhora… ita tem de usar focinheira nesse… animal. – É um cachorro. – Pois bem, no cachorro. – Que cor? Hu-hu! Muito boa, Lôra! O casal-enviado-do-poder entreolhou-se por uns dez minutos, desconcertado, como se assim fosse possível encontrar mais facilmente alguma resposta.  Mamãe não esboçou a menor reação. Manteve a pose da qual tanto me orgulho, gélida, impassível, nariz arrebitado apontado para a lua, queixo desafiador, olhar fulminante. Ela fica linda brava.  Colei em sua perna, para aumentar o respeito. Fosse eu um boxer, e não um husky, levantaria as patas dianteiras, provocador: Veeeeemm. Golpearia sem dó o fiscal e a fiscala. Um e depois a outra, a outra e o um, o um… O homem tentou retomar o controle da situação. – Senhora… ita, estamos apenas conversando. – Eu não estou conversando. Estava passeando com os meus cachorros quando vocês nos atrapalharam. Pensa que é fácil manter o porte físico desse animal? Sabe o que são horas de caminhada por dia, para que o tônus muscular permanece rígido, os reflexos rápidos?… Reflexos? Ahhh não! Boiolices, na-na-nina, nem rápidos, nem demorados, tá pensando?! – Tragam a lei amanhã e levarei para os meus advogados. (Agora vem a melhor parte) – Amanhã é carnaval e tem desfile e … – Vocês não estarão aqui? É para isso que eu pago os meus impostos? Para ter de esperar dias por uma lei?? Eles tentavam balbuciar alguma coisa quando Lôra deu o cheque-mate. – Antes de Finados, entendeu? Eu quero essa lei antes de Finados! Caso contrário, n-i-n-g-u-é-m nos tira do calçadão. – Si-i-i-i…m                                                                                                                                                                                                                Viramos as patas e seguimos o passeio.  Percebam, por favor, a generosidade da minha dona. Se nada mudar durante o ano, e acho que essas datas são meio fixas, não? Finados cai em novembro. As always.  Creio que ela quis dizer quarta-feira de cinzas. Mas, pensando bem, finados são cinzas. Só muda o dia, ué. Dá tempo até para definir cores para as focinheiras. Se Lôra fosse capaz de contar uma piada inteira – prova e tanto de boa memória, que o Alcyr e o Caiado têm – podia até ser atriz.  Então, não precisaríamos mais de advogado, mas de um empresário. 

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