Segunda-feira. Estávamos no quintal dos fundos. Há horas. Sem nada para fazer. As galinhas, que habitam aquela área (infelizmente, em espaço demarcado e cercado) ressonavam desde o pôr-do-sol.
O tédio era tanto que eu e o Igor gastamos horas refletindo sobre expressões idiomáticas, tais como dormir com as galinhas.
O gordo insistia: trata-se de agarrar o poleiro com os dedos dos pés, equilibrando (debilmente) o desajeitado corpão ao lado das penosas (Os dois adjetivos negritados acrescentei por minha própria pata, para dar mais veracidade ao depoimento.)
Respirei fundo antes de retrucar: dormir com as galinhas é uma referência ao tempo, meu bem. É quando se dorme cedo, como esse bando de inúteis. Usei de delicadeza, pois o colega sofre de melindre siberiano, magoa-se com o tom das palavras. Coisa de veado, cá entre nós, que começou depois que mamãe sumiu com as bolas dele. Mas essa é outra história.
Era esse o quadro, enfim. Nada para fazer. Comecei a sentir uma vontade incontrolável de me divertir. Algo como…uma brincadeira coletiva.
PEGA-PEGA! Isso, isso! Gênio! Eu pegaria as galinhas! Não ia ter muita graça, verdade, pois elas estavam e pijama, mas… E daí?
Conferi as horas. Passava das oito da noite. Lôra chegaria com muita fome, e eu poderia oferecer-lhe uma suculenta antecoxa. Meu moral iria para as alturas. Sim, pois acho que ela se zangou na investida anterior porque tracei a galinha de maneira compulsiva. Em minutos, o que sobrou foi bico, penas e rugas (que chamam, também, de pés-de-galinha).
Sem falar no bônus: inclusão social. Eu, Igor e as galinhas, na maior integração, numa incrível atividade coletiva, mostrando o que é uma equipe que respeita as diferenças. (Leia-se: Eu sou maior do que você e vou te comer numa bocada só. É a lei da selva, fo-fa).
Para botar Esopo no chinelo, percebe?
Eu esquentava as patas para dar início à diversão quando Lôra chegou.
– Isso são horas? – resmungou Igor, agindo como chefe da família, mas, no fundo, lamentando a merenda perdida.
segue…